JAMAIS SUSPEITARIA DE TDAH EM MEU FILHO

Essa história foi relatada por uma mãe, a quem vou chamar de Fernanda, ao trazer filho para um acompanhamento neuropsicológico. Talvez você se identifique um pouco em algum ponto com o relato dessa mãe. Há muitas histórias similares.

Fernanda e seu esposo, Marcos, sempre foram pais bastante observadores do desenvolvimento do filho, um garoto chamado Romeu. Eles relataram que desde pequeno Romeu manifestava alguns comportamentos diferentes do comportamento da irmã quando comparavam os dois. Romeu era mais inquieto e agitado, impaciente a ponto de colocar os pais em situações embaraçosas. Quando tinha reuniões familiares ou recebiam visitas em casa, Romeu era o centro das atenções, mas não por bom comportamento ou boa conversa. Ele atrapalhava o diálogo dos pais ou outras pessoas presentes no ambiente. Todos achavam que era apenas o jeito dele ser criança e colocar sua energia para fora.

Romeu começou a frequentar a escola aos 3 anos de idade, sua agitação e falta de concentração nas tarefas já era evidente, embora ainda não atrapalhassem seu desempenho, pois nessa idade as crianças realizam atividades mais lúdicas. Renata relatou que quando chegou no 2º ano, ficou difícil ignorar que a agitação e dificuldade de focar nas tarefas fosse apenas uma questão de “jeito de ser”. Romeu não conseguir ficar quieto na sala de aula, incomodava os colegas, levantava diversas vezes da cadeira. Em casa, também não concentrava em nada, nem mesmo durante suas brincadeiras ele ficava focado em uma atividade por algum tempo, ele apenas iniciava e logo buscava outra brincadeira ou outro brinquedo.

Alguns professores e parentes disseram que Romeu precisava de mais limites na educação, que os pais não colocavam regras. Embora isso não fosse verdade, Fernanda disse que o casal ficava com sentimento de culpa, de realmente acharem que não sabiam educar o filho de uma maneira adequada. Foi quando decidiram levar a criança em um profissional que não constatou nada além de uma criança levada e bagunceira. Era coisa normal de criança e logo passaria, disse o profissional. Porém,  Fernanda e Marcos não notaram melhora ou redução dos problemas, ao contrário, a medida que a escola ia aumentando a complexidade dos conteúdos, Romeu parecia ter mais dificuldades para se concentrar e fazer as tarefas escolares, isso afetava seu aprendizado.

Com o aumento das dificuldades, o casal decidiu procurar novamente um profissional. Desta vez, Romeu passou por uma avaliação especializada, foi realizado uma avaliação neuropsicológica e avaliação médica para entender porque Romeu apresentava essas características. “Descobrimos que ele tinha TDAH e me senti péssima com a notícia, me senti culpada, e não sabia como lidar com a situação. Foi entendendo o que é TDAH e como afetava o Romeu que passei a administrar melhor as coisas. Fomos promovendo mudanças na rotina de Romeu, na nossa forma de ajudá-lo e também conseguimos contar com o apoio da escola. Foi um divisor de águas em nossas vidas.”

Como pais, nós queremos e procuramos fazer o melhor para nossos filhos. O que a Fernanda vivenciou é algo que outras famílias compartilham, uma situação que muitas mães vivenciam diariamente. Sentem-se culpados, acham que estão falhando na educação dos filhos, quando na verdade estão fazendo de tudo para que suas crianças tenham uma boa educação e cresçam bem. Para entender  o que está acontecendo com os filhos, é preciso entender como as emoções, o comportamento e os aspectos cognitivos da criança estão interferindo no funcionamento dela. É preciso assimilar esse funcionamento para poder amparar a criança e auxiliar os pais na busca por melhores formas de ajudar seus filhos.

Wendell Noronha
Neuropsicólogo
Especialista em Avaliação Neuropsicológica
Especialista em Reabilitação e Estimulação Neuropsicológica

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